Uma dívida impagável

 De todas as dívidas que contraímos ou vamos contrair ao longo das nossas vidas, há uma que nunca vamos conseguir pagar.

Dívidas. Uma palavra que causa suores frios a muitas pessoas. Ninguém gosta de as ter mas quase todos têm de as contrair. Quer seja para comprar carro, casa, ir de férias, quer seja para salvar economias, bancos, empresas, a verdade é que a nossa sociedade capitalista tem pés de barro, assentes em dívidas.

Regra geral, quem contrai uma dívida quer pagá-la o mais rápido possível. E uma dívida nunca vem só, há os juros, as taxas e taxinhas que andam à volta dela, como aqueles peixes pequeninos andam à volta dos tubarões.

Nem sempre as vemos ou pensamos sobre elas, seguimos as nossas vidas com mais ou menos tranquilidade até chegar a próxima prestação. Podemos não pensar sempre nas dívidas, mas não negamos que elas existem e que as temos de pagar.

Ao contrário da crise climática. A maioria das pessoas vive em negação. “O mundo ainda está em negação da crise climática”, afirmou Greta Thunberg esta semana, quando se assinalaram dois anos que a jovem ativista sueca começou com o movimento de greve climática às aulas.

Nestes dois anos, o mundo assistiu a grandes mudanças e ao agravamento de várias tensões sociais, raciais e políticas. Não se chegou a nenhum acordo sério para mudarmos a nossa forma de viver acima das possibilidades daquilo que o planeta nos dá. Uma nova pandemia global começou. O mundo, finalmente, abrandou o ritmo. Houve quem romantizasse que o planeta estivesse a curar-se, que a natureza estivesse a tomar o seu lugar, que nada mais iria ser como era antes.

Nada mudou para melhor, só para pior. Além de estarem a morrer pessoas todos os dias de COVID-19, a pandemia está a agudizar as desigualdades sociais. Nos lugares onde a pandemia dá sinais de abrandamento tudo está como antes – poluir e consumir como se não houvesse amanhã.

O planeta não se vai curar com míseros meses em que os humanos estiveram “enjaulados” depois de tantos anos a explorar os seus recursos até ao tutano. Há danos que já são irreversíveis e esta é a dívida que nunca iremos conseguir pagar. Há espécies extintas que nunca mais voltarão a existir, há territórios que estão a desaparecer debaixo d’água, oceanos a transformarem-se em mares de plástico, há desertos a nascer e há paraísos de gelo intocados a derreter.

Os negacionistas desta crise dirão: “ah, que exagero, estas mudanças fazem parte do planeta.” “O aquecimento global não existe”, vão escrever no Twitter, motivados por um líder qualquer que costuma escrever esta e outras barbaridades nas redes sociais.

Sim, é verdade, o mundo está a mudar. Mas todos os anos, desde que me lembro, leio sempre a mesma notícia: o homem esgotou os recursos naturais da Terra e vai viver em dívida com o planeta. Este ano, é a partir de hoje. Até quando vamos (sobre)viver assim?

silas-hao-XgIwVSXhHHw-unsplash.jpg

Comentários